Tuesday, August 24, 2010

O mais antigo registro de vida animal no planeta

Acredita-se que entre 1 bilhão e 542 milhões de anos atrás, nosso planeta passou por pelo menos dois períodos de glaciação global, nos quais esteve completamente coberto de gelo. A hipótese, chamada de Terra bola de neve (snowball earth), ajuda também a explicar a ausência de fósseis de organismos multicelulares mais antigos que 600 milhões de anos atrás, assim como a "explosão" de formas multicelulares que ocorreu logo após este período de glaciação, conhecida como a explosão do cambriano.

O registro fóssil mais antigo de vida animal ocorre já no fim da última grande glaciação: uma esponja chamada Paleophragmadictya. Portanto, poucos cientistas estariam sequer dispostos a procurar por fósseis animais (e gastar seus recursos de pesquisa) em rochas mais antigas que 650 milhões de anos. Dificilmente um organismo multicelular sobreviveria a Terra bola de neve.

Porém, com ajuda da fundação americana de ciência (National Science Foundation), o grupo liderado pelo Dr. Adam Maloof, da universidade de Princeton, resolveu seguir para a Austrália e embarcar nesta ingrata tarefa de procurar por sinal vida animal onde niguém jamais encontrou.

E, ao que tudo indica, a empreitada rendeu dividendos: em forma de esponja!

Na edição de 17 de agosto da revista Nature Geosciences, Maloof e colaboradores descrevem o que acreditam ser fósseis de esponjas de 650 milhões de anos atrás. Os autores utilizam softwares de computação gráfica para reconstruir modelos tri-dimencionais dos fósseis. Como resultado, eles puderam observar vários canais internos assimétricos e câmaras semelhantes aquelas encontradas em esponjas modernas. Os fósseis ainda estão sob olhar crítico da comunidade científica e a ausência de outras características típicas de esponjas como espículas fossilizadas estão sendo debatidas.

De qualquer forma, se o achado de Maloof e colaboradores estiver correto, ao menos alguns dos mais antigos animais sobreviveram a glaciação global. Alternativamente, a glaciação não foi tão severa quanto se acredita e a terra não se tornou uma bona fide bola de neve.

Algo que acho válido ressaltar a respeito deste post e do anterior sobre a publicação do genoma da esponja Amphimedon queenslandica: a pesquisa biomédica tem como foco a cura de doenças e a busca por melhor qualidade de vida para a humanidade. Muito legal né? Mas notem o quanto podemos aprender a respeito da historia do nosso planeta e nossa própria história apenas estudando esponjas? Na minha opinião, muito mais legal! Quem somos, de onde viemos e para onde vamos? Você não encontrará resposta para essas perguntas no New England Journal of Medicine.

Monday, August 9, 2010

Os segredos da multicelulariedade animal: O genoma das esponjas


ResearchBlogging.org

Na edição dessa semana da conceituada revista Nature foi publicado o genoma da espécie de esponja Amphimedon queenslandica trazendo importantes informações a cerca das seqüências de DNA encontradas nesses organismos na base da cadeia evolutiva dos animais.

Esponjas são animais que não são muito de se mover (nem tudo que não se mexe é planta) e que vivem em nosso planeta há mais de 600 milhões de anos. Estes organismos guardam importantes segredos sobre como nossa organização celular evoluiu, isto é, como controlamos a proliferação a diferenciação das nossas células sem gerar processos de divisão desordenados, como o câncer por exemplo.

E o que o genoma das esponjas traz de novo e porque foi de grande importância desvendá-lo? Ao comparar o genoma da Amphimedon com o de organismos mais complexos como nós e com organismos mais simples como o coanoflagelado unicelular Monosiga pôde-se descobrir o que é comum e diferente entre estes organismos.A partir desta análise o artigo reporta que várias moléculas importantes para o controle do ciclo celular e para a comunicação célula-célula estão presentes nos genomas desta esponja e ausentes no genoma do coanoflagelado Monosiga, um representante unicelular. Aparentemente o advento de organismos mais complexos está ligado ao aparecimento de novos genes na cadeia dos animais e em novas interações que começaram 600 milhoes atrás com o nosso ancestral comum com as esponjas.

Mas como tudo na ciência novas perguntas se abrem a partir do presente estudo. Saber como esses genes importantes para a multicelulariedade atuam nas esponjas é uma delas....Mas como os próprios autores mencionam as esponjas não são organismos fáceis de lidar e de se cultivar em laboratório, a espécie cujo genoma foi seqüenciado, por exemplo, fica no oceano australiano.....é chegado o momento de mergulhar....



Srivastava M, Simakov O, Chapman J, Fahey B, Gauthier ME, Mitros T, Richards GS, Conaco C, Dacre M, Hellsten U, Larroux C, Putnam NH, Stanke M, Adamska M, Darling A, Degnan SM, Oakley TH, Plachetzki DC, Zhai Y, Adamski M, Calcino A, Cummins SF, Goodstein DM, Harris C, Jackson DJ, Leys SP, Shu S, Woodcroft BJ, Vervoort M, Kosik KS, Manning G, Degnan BM, & Rokhsar DS (2010). The Amphimedon queenslandica genome and the evolution of animal complexity. Nature, 466 (7307), 720-726 PMID: 20686567