Friday, July 30, 2010
Pax-6 e a origem dos olhos
A biologia da evolução e do desenvolvimento (Evo-devo) é um campo aberto de pesquisa que oferece diversos "problemas" biológicos a serem resolvidos. Alguns problemas, porém, recebem atenção especial. Um deles é a origem dos olhos.
Charles Darwin já o descreveu como um órgão de extrema perfeição e a turma do contra (contra-senso) costuma usá-lo como exemplo de um órgão tão complexo que não poderia ter outra origem que não a intervenção divina.
Para biólogos, resolver se os olhos evoluiram ou não é um problema sem graça, pois já foi resolvido há muito tempo (mais informações em Shubin et al., 2009, Nature). Um problema interessante é saber se todos os olhos complexos tem a mesma origem ou se evoluíram de forma independente. E é este problema que Suga e colaboradores ajudaram a responder em recente artigo publicado na revista PNAS.
O desenvolvimento dos olhos de todos os animais bilatérios começa com a atividade do fator de transcrição Pax-6. As águas-vivas (medusas) pertencem ao grupo de animais de parentesco mais distante do nosso e possuidores de olhos complexo. Porém estas aparentemente não possuiam gene pax que desempenhasse função na formação de olhos.
Hiroshi Suga e colaboradores, trabalhando no laboratório de Walter Gehring em Basel na Suiça, foram capazes de identificar um gene da família Pax, chamado de pax-A, em águas-vivas. Os autores mostram que Pax-A é expresso nos olhos e ativa a expressão de genes da família opsina, que são também os genes-alvo do Pax-6 em vertebrados. Por fim, os autores mostram que a indução da expressão do Pax-A de água-vivas em moscas resulta na formação de olhos adicionais.
Este estudo mostra que a via gênica responsável pela formação de olhos complexos já estava presente no ancestral comum entre humanos e cnidários. Sim, o olho, de fato, é uma estrutura fantástica e de extrema complexidade. E será que a seleção natural teve tempo pra inventá-lo? Hoje sabemos: teve, e só o fez uma vez, há mais de meio bilhão de anos. Desde de então, só precisou fazer upgrades.
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Olá, achei muito interessante o artigo. Eu estava com essa dúvida algum tempo atrás quando comecei a ver Cnidários no meu curso. O artigo ajudou a entender e a sanar a dúvida, legal.
ReplyDeleteVisite meu blog:
www.nano-macro.com
Interessante!
ReplyDeleteIsso reforça o conceito lindo de "homologia profunda" entre as espécies. A algum tempo pensávamos que os olhos evoluiram diversas vezes, mais de uma dezena, de forma convergente, mas no ultimo ancestral comum aos bilatérios, o hipotético Urbilatéria, as fotocélulas possivelmente ja estavam presente...O máquinário pode ser "escondido" nesses dominios pareados, mas o resultado deles é essa explosão da visão animal!!!
ReplyDeleteparabens pelo curto e adorável texto!
Wesley, Emerson e Felipe: orbigado pelos comentários! Inspirado pelo comentário do Felipe, adicionei um link no texto para um artigo de revisão sobre homologia profunda (que discute a evolução do olho) escrito por Neil Shubin (com quem trabalho), Cliff Tabin e Sean Carroll.
ReplyDeleteVale a pena dar uma olhada!
Abraços,
Igor
Beleza de blog!
ReplyDeleteÓtimo texto só pra variar!
Eu tinha escrito um texto aqui, mas acabou que nao foi postado. No texto que eu havia escrito eu chamava atenção para o fato de que esse gene Pax também já foi encontrado em esponjas. E assim como em Cnidários, o gene "recuperou" os olhos de moscas mutantes. O artigo é da Hill e colaboradores, publicados agora em 2010!
Grande abraço e continuem com esses belos textos!
Oi Emilio,
ReplyDeleteobrigado por continuar visitando o blog!
Vou dar uma olhada no artigo.
Abraco