Alguns anos atrás, se você dissesse em uma roda de geneticistas que estava pesquisando o gene (ênfase na singularidade!) responsável pela evolução da linguagem em humanos, com certeza não seria levado muito à sério.
A habilidade de linguagem é característica distintiva da espécie humana e certamente pré-requisito para a evolução de nossa cultura e civilização. A capacidade de articular pensamentos em palavras certamente dependeu de inovações anatômicas da faringe e boca, assim como do cérebro. Por essas e outras razões, qualquer pessoa imaginaria que o surgimento da habilidade de linguagem dependeria da evolução de vários genes.
Este palpite é muito provavelmente correto. Porém, muitos imaginavam que qualquer gene, quando estudado em isolamento, pouco revelaria sobre a evolução da linguagem. Este último palpite parece hoje estar errado!
Na década de 90 uma família inglesa chamou a atenção da comunidade científica, pois aproximadamente metade dos membros possuíam, entre outros defeitos, problemas em movimentos faciais e dos lábios, e a incapacidade articular palavras.
Em 2001, pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra identificaram uma mutação associada à doença. O gene: Foxp2. O aspecto mais interessante do achado que poucos comentam: o gene é um fator de transcrição. Este tipo de proteína se liga no DNA para controlar a expressão de múltiplos genes. Ou seja, mutações no Foxp2 tem o potencial de alterar a produção de múltiplos genes, o que possivelmente explica o conjunto de defeitos presentes na família inglesa mencionada acima.
Quando comparada com a seqüência de outros primatas, a versão (haplótipo) humana do Foxp2 possui um padrão único de seqüência de aminoácidos que indica seleção positiva, ou seja: este gene esteve evoluindo rapidamente na linhagem que levou ao homem. A análise de DNA de neandertal revelou que estes já possuíam o haplótipo do homem moderno.
O tema voltou à tona pois o grupo do Dr. Svante Pääbo, do Instituto Max-Planck em Leipzig, Alemanha, gerou um camundongo onde o gene do Foxp2 foi alterado para se assemelhar ao haplótipo humano. O camundongo não saiu falando, mas exibiu alterações de comportamento, algumas alterações no cérebro, e o mais esperado: alteração na vocalização!
O Foxp2 pode não ser o “gene da linguagem”, e com certeza muito menos o “gene da gramática”, como alguns ousaram reportar. Mas certamente parece ter tido papel importante na evolução da capacidade da fala em humanos.
Recentemente, um grupo japonês gerou um macaco sagüi transgênico, contendo o gene que codifica a proteína fluorescente GFP, abrindo caminho para a transgenia em primatas não-humanos. O que aconteceria com um primata não-humano contendo a cópia humana do Foxp2?
Thursday, June 4, 2009
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Igor,
ReplyDeleteParabéns pelo blog! Adorei! Ouvi de alguém nu corredor aí em Chicago uma frase engraçada sobre essa pesquisa: "I wonder how Svante made those mice squeak".
Abs,
Claudio Angelo
muito interessante o blog! ouvi falar do foxp2 no you tube e eu como sou muito curioso resolvi pesquisar e achei muito bem esclarecido neste blog.
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