Antes de existirem mamíferos, répteis, aves, peixes, plantas e insetos, deuterostômios e protostômios, antes de existirem procariotos e eucariotos, antes até mesmo das primeiras enzimas e do DNA, existia o mundo do RNA, ou RNA world.
Neste mundo ainda não existia vida celular, proteínas ainda não possuíam atividade enzimática e o DNA ainda não existia; neste estágio, moléculas de RNA executavam toda a atividade catalítica e de armazenamento de informação genética.
Esta é a principal hipótese para a origem da vida celular como conhecemos. A molécula de RNA teria surgido primeiro e dado origem ao DNA e ao processo para gerar proteínas. Dentre os mais importantes estudos que corroboram esta hipótese está a descoberta da ribonuclease P (RNaseP), um “agregado” de proteínas e RNA, onde uma molécula de RNA constitui a subunidade catalítica responsável pela a síntese de tRNA (RNA transportador). O achado rendeu o prêmio Nobel de química de 1980 para Walter Gilbert, Frederick Sanger e Paul Berg.
A chave para a vida é a evolução de um sistema composto por uma molécula que se auto-replique. Portanto, é possível que, na sopa primordial, a seleção natural operasse sobre moléculas de RNA, favorecendo aquelas que melhor catalisassem sua própria produção. Talvez o principal problema da hipótese envolvesse o surgimento da própria molécula de RNA. Ninguém até então havia sido capaz de gerar em laboratório, condições para o surgimento dos ribonucleotídeos que compõem o RNA.
Até ontem.
Nesta semana, a revista Nature publicou o trabalho do Dr. John D. Sutherland da Universidade de Manchester, UK, no qual os autores conseguiram gerar ribonucleotídeos, em condições consistentes com a geoquímica da terra primordial.
Acho interessante pensar que, até a publicação da Origem das Espécies 150 anos atrás, nada se sabia da origem ou do processo que chamamos de vida. Hoje, sob a luz da evolução, podemos entender o processo pelo qual microscópicas moléculas, há bilhões de anos, evoluíram nas mais complexas e variadas formas de vida. Darwin escreveu em seu famigerado livro:
“...from so simple a beginning endless forms most beautiful and most wonderful have been, and are being, evolved”.
Naquele momento, Darwin nem em sonho imaginaria o quão simples de fato foi o nosso começo.
Friday, May 15, 2009
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